SILÊNCIO
A Voz da Vida
Acordo e não consigo pronunciar qualquer palavra. Estou totalmente sem voz!
Logo eu que sou sempre tão faladora, que tenho sempre tanto para dizer! E logo agora, aqui em Marrocos, com tantas pessoas a quem dar atenção. E ainda por cima logo hoje que gostaria de partilhar uma outra forma de olhar a Natureza e de como contactar com o Reino das Fadas e com todo o Mundo dos Devas…
Mas de repente noto que tudo ganhou um ritmo diferente, é como que cada segundo passe a valer por um minuto. A minha atenção está aumentada muitas vezes mais, tudo o que me rodeia está mais definido nos seus contornos, as cores estão mais brilhantes, os cheiros são mais intensos, o paladar mais apurado, cada toque é sentido mais profundamente e os meus ouvidos estão mais sensíveis do que nunca. Parece que todos os sons aumentaram dez vezes mais. Estarão todos a gritar?
Na minha nova mudez sigo as conversas à minha volta e mil pensamentos surgem imediatamente na minha mente, que belos exemplos eu tinha para dar, e tantas vivências eu poderia partilhar. Tento escrever algo que surge como resposta a algo que foi dito, mas a escrita é muito lenta em comparação com a fala e quando acabo de escrever já vem fora de tempo, já a conversa derivou para outro assunto…
Passo então a observadora e ouvinte intensiva!...
Dou por mim num mundo diferente e à parte das pessoas que me rodeiam, um mundo onde o sentir se intensificou, onde o sentir é agora percepcionar.
A minha mente, talvez por hábito, continua a emitir pensamentos, opiniões e a debitar exemplos de experiências vivenciadas sobre os assuntos que se falam à minha volta, mas aos poucos vai perdendo força pois não é estimulada pela fala.
Apercebo-me que o silêncio forçado me mostra o quanto normalmente me deixo levar pela conversa (afinal as conversas são como as cerejas, atrás de uma vêm sempre duas ou três mais… :-) ).
Incrível, esta incapacidade de falar, este silêncio à força, mostra-me que a conversa, embora possa servir para uma partilha de alma, ela pode também tirar-nos do “aqui e agora”. E assim à conta da minha boca sem som, tropeço na chave da sincronicidade - o silêncio foca a nossa atenção na vivência do momento. Só em silêncio podemos escutar a Voz da Vida!
E de uma forma mágica todos os instantes são saboreados com mais intensidade. Sou receptora do significado de cada gesto, da energia em cada movimento, e o ouvido apurado vai-me guiando para além da distracção da conversa até ao que é realmente importante – a nossa ligação a um outro Sentir!
Mas que Sentir é este afinal? É algo diferente do tacto ou das emoções. É mais subtil, mais leve, mais indefinível. Para se alcançar este Sentir é necessária atenção máxima, atenção plenamente direccionada, mas uma atenção receptiva e sem esforço.
Este Sentir está para além dos sentidos do Corpo ou da Alma, para além do toque ou dos sentimentos, ele é aquilo a que se chama intuição, é a ligação à nossa Essência!
Este é o acesso ao mundo subtil, onde os Anjos nos sussurram e as fadas guiam os nossos passos a cada instante, numa sincronicidade total com a Vida. Este é o plano de manifestação do Mundo Transcendente, onde ficamos mais perto de Deus.
Aqui todos os nossos sentidos físicos são apurados e esta sensibilidade aumentada leva-nos a um estado de observação em câmara lenta onde há mais clareza, onde tudo faz sentido.
Ficar sem voz deu-me acesso a escutar as várias vozes que orientam aquilo a que chamamos Criação… Vida!
Yasmin
1 comentário:
Ao ler as tuas palavras sinto o quanto as gostava de as ouvir quando partilhavamos experiencias na Quinta dos Lobos, mas também me faz recordar que não eram precisas palavras para nos sentirmos bem e completos, tão diferente desta selva que é a vida cá fora, sem pessoas que como tu sabem sentir o momento e aceitar tudo o que venha como uma dádiva e não uma desgraça :(, espero que a tua voz volte depresa e que não tenhas problemas em partilhar os teus momentos com ninguém pois os teus momentos podem dar força a alguem para ir mais fundo no seu ser sem medo do que se possa encontrar. Um beijo chieo de saudades e um xi-coração mto apertado. Susana Narciso
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